Atendendo a pedidos, reapresento uma compilação que preparei e postei em dezembro de 2012, dos dois álbuns da série Colagem, da cantora e compositora Dolores Duran, lançados respectivamente em 1965 e 1966, pela gravadora Copacabana Discos.
Essa série reunia os sucessos dos principais artistas do catálogo da gravadora, tais como Elizeth Cardoso, Moacir Franco, Angela Maria, Wanderley Cardoso, Os Carbonos, Claudio Fontana, Agnaldo Rayol, Inezita Barroso, Maria Thereza, entre outros artistas.
Em minha opinião, uma das cantoras e compositoras brasileiras mais relevantes de nossa música é Dolores Duran, cujo nome verdadeiro era Adiléia Silva da Rocha. Ela nasceu no Rio de Janeiro, no dia 07/06/1930 e morreu precocemente aos 29 anos, no dia 24/10/1959.
Foram apenas 13 anos de carreira musical, porém deixou um legado de interpretações e composições que alternam gerações. Dolores Duran gostava de cantar desde criança e sonhava em ser famosa. Aos oito anos de idade contrai a febre reumática, que quase a levou a morte, deixando sequela de um sopro cardíaco gravíssimo, que a levou a morte posteriormente.
Ao doze anos de idade, influenciada pelos amigos, resolve se inscrever em um concurso de cantores, onde surpreendentemente se destacou como se fosse uma profissional e conquistou o primeiro lugar no Programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso. As apresentações tornaram-se frequentes, fixando-a na carreira artística.
Para ajudar nas despesas da casa abandona os estudos e arranja um emprego de atriz nas rádios Cruzeiro do Sul, nos programas da Tupi e no teatro. No final dos anos 1940, ela conhece um casal rico e influente, Lauro e Heloísa Paes de Andrade, que já a tinham ouvido cantar.
Eles passam a ajudá-la a se tornar realmente uma cantora e a levam em diversos lugares finos e reconhecidos, frequentado por pessoas famosas. Eles passam a chamá-la de Dolores Duran. Na época, era um nome reconhecidamente fino. Esse nome tem origem espanhola e tem característica de dramaticidade, já que significa Dores. Era um nome forte com uma carga de dor, sofrimento intenso e o sobrenome Duran, que quer dizer durante, sempre, intensifica ainda mais, como se não tivesse fim essa dor.
Apesar de nunca ter estudado línguas, aprendeu sozinha a cantar em inglês, francês, italiano, espanho e até em esperanto. Para se ter uma idéia, a famosa e estupenda cantora norte americana Ella Fitzgerald, durante sua passagem pela cidade do Rio de Janeiro, nos anos 1950, foi a boate “Baccarat”, especialmente para ouvir Dolores Duran cantar e entusiasmou-se com ainterpretação dela para a música My Funny Valentine e considerou essa interpretação como uma das melhores que já ouviu.
Suas músicas se tornaram sucesso imediato. Eram dramáticas, belas, românticas e expressarvam os sentimentos mais puros de um coração. O compositor Antonio Maria, um dos autores de Manhã de Carnaval (do filme Orfeu de Carnaval) publicou que “Dolores Duran falou de sentimentos como ninguém, em todas as línguas. Seu idioma era o amor!”.
Cantava em diversas boates no boêmio Rio de Janeiro daquela época. Sua fama se espalhou e foi contratada pela Rádio Nacional, uma das várias radios cariocas, que reuniam artistas do país inteiro e que na época só escolhia os melhores cantores e cantoras. Era a rádio mais disputada pelos artistas.
Teve muitos namorados, entre eles o compositor Billy Blanco, de quem também gravou várias músicas. Compôs o samba O Negócio é Amar, junto com Antonio Carlos Jobim, que posteriormente faria grande sucesso com a cantora Nara Leão.
A década de 1950m se iniciou marcante para Dolores Duran, que passou a cantar nas sofisticadas boates do famoso Hotel Glória. Era famosa e era comum distribuir autógrafos por aonde ia.
Em 1951, conhece um músico do Acre, tocador de acordeão, chamado João Donato. Eles se encontravam todas as noites em frente ao Hotel Glória. Eles só não se casaram devido à oposição da família dele, pois ele tinha 17 anos e ela 21. Naquela época, a sociedade não costumava aceitar que uma mulher mais velha ficasse com um homem mais novo. Após várias tentativas de ficar juntos, o namoro acabou quando ele foi morar no México. Isso a fez sofrer, canalizando toda essa dor para as composições e interpretações. Porém, ela superou e seu sucesso na música aumentou.
A sua estréia em disco ocorreu em 1952, lançando o disco “Música Para o Carnaval”, gravando dois sambas para o caranaval do no seguinte: Que Bom Será e Já Não Interessa. Em 1953, gravou Outono (Billy Blanco) e Lama. Dois anos depois, vieram às canções Canção da Volta, Bom Querer Bem, Praça Mauá e Carioca.
Muitas vezes, nas madrugadas, ela criava suas letras na mesa dos bares, bebendo e fumando, ouvindo canções de bolero, salsa, choro e samba. Inspirava-se em seus casos amorosos e na sua vida em geral, suas alegrias, tristezas, dores, anseios e mágoas, para compor suas inesquecíveis letras.
Em 1955, foi vítima de um infarto, tendo passado trinta dias internada no Hospital Miguel Couto. Ela resolveu não seguir as restrições que os médicos lhe determinavam, agravando os problemas cardíacos que trazia desde a infância, problemas que só se agravaram com o tempo, pois abusava do cigarro (fumava mais de três carteiras de cigarro por dia) e da bebida, principalmente vodca e o uísque. A depressão passou a marcar sua vida. Mesmo famosa e amada por milhares de fãs, se sentia triste, só, um vazio lhe tomava conta e com isso, buscava cada vez mais o refúgio na bebida e no cigarro.
Nesse mesmo ano, conheceu o cantor e compositor Macedo Neto, de quem gravou diversos sambas. Os dois se conheceram nos estúdios da gravadora Copacabana e rapidamente foram morar juntos. Antes de se casarem oficialmente, ela engravidou e passou por uma gravidez tubária, de alto risco, levand0-a a perda do feto e a esterilidade, interrompendo o seu sonho de ser mãe, o que arruinou sua vida e a levou a piora no vício da bebida e cigarros. Um fato que marcou, após a perda do filho, por ocasião do seu casamento, foi o fato do marido proibir a mãe dela de comparecer ao casamento deles, já que ela era negra. Esse fato a deixou perplexa e enfurecida. Ela só se casou para não se sentir tão só, porém nunca o perdoou por isso.
Em 1956, fez sucesso com a canção Filha de Chico Brito, composta pelo humorista Chico Anísio. Um ano depois, um jovem compositor apresentou a Dolores uma composição dele e de Vinícius de Moraes. Tratava-se de Antonio Carlos Jobim em início de carreira. Em três minutos, Dolores pegou um lápis e compôs a letra da canção Por Causa de Você. Vinícius ficou encantado com a letra e gentilmente cedeu espaço na composição a Dolores. A partir disso, foi revelado o talento dela para composição e grandes sucessos viriam a seguir, tais como, Estrada do Sol, Idéias Erradas, Minha Toada, a encantadora A Noite de Meu Bem, entre outras canções.
Em 1958, após sucessivas discussões e brigas violentas, desquitou-se de Macedo Neto e passou meses na Europa cantando e se apresentando com seu grupo musical, fazendo muito sucesso. Cantou no Uruguai, União Soviética e China, na companhia de músicos brasileiros. Após desentendimento com o seu grupo, muda de planos e realiza o seu grande sonho, viajando sozinha da China para Paris. Ficou um bom tempo passeando e conhecendo as maravilhas da cidade luz, a bela e encantadora Paris.
Após retorno ao Brasil, algum tempo depois, adotou uma recém-nascida, pobre e negra a quem deu o nome de Maria Fernanda da Rocha Macedo, que foi registrado por Macedo Neto, mesmo estando ele separado de Dolores Duran. A mãe biológica de Maria Fernanda era viúva e havia falecido após o parto, pois não aguentou a emoção de ter perdido o marido, padrasto da menina, que foi uma das vítimas da pior tragédia em trens suburbanos do Rio de Janeiro. O bebê iria ficar com a empregada de Dolores, amiga da mãe da criança, mas por ela ser muito pobre, acabou a entregando para Dolores, que se encantou perdidamente pela criança e deu todo o amor e carinho possíveis. Passeava com a menina e lhe deu tudo de bom que o dinheiro e o amor podiam proporcionar.
A partir dessa fase da vida, durante os dois último anos de vida, compôs algumas das mais marcantes canções da música popular brasileira, como Castigo e Olha o Tempo Passando, entre tantas outras.
Na madrugada de 23/10/1959, depois de um show na boate “Little Club”, a cantora saiu com seu último namorado, chamado Nonato Pinheiro e com seus amigos para uma festa no requintado Clube da Aeronáutica. Ao sair da festa, resolvera fechar a noite bebendo e ouvindo canções no Kit Club. A cantora chegou a casa às sete horas da manhã do dia 24. Brincou e beijou a filha, já com 3 anos, na banheira. Em seguida, passou os últimos cuidados à empregada Rita: “Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer”, disse brincando. No quarto, sofreu um infarto fulminante, que na época foi associado a uma dose excessiva de barbitúricos, cigarros e álcool. Encontra sepultada no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.
A vida dramática e intensa marca a trajetória da cantora. A morte prematura de Dolores Duran, aos 29 anos, interrompeu uma carreira de sucesso. A amiga cantora Marisa Gata Mansa levou os últimos versos de Dolores para Ribamar musicá-los. Carlos Lyra fez o mesmo sobre os versos inéditos. O ex-marido criou a filha adotiva deles.
Fonte: Wikipedia, 2020
A seguir a relação das canções que compõem os volumes 1 e 2, da série Colagem, acrescidas de dois bônus:
Volume 1:
01. Por causa de você;
02. Estatutos de boite;
03. Quem foi;
04. Camelot;
05. Coisas de mulher;
06. Conceição;
07. Que murmurem;
08. Only you;
09. Outono;
10. Nossos destinos;
11. Canção da volta;
12. A noite de meu bem;
Volume 2:
13. Manias;
14. Fim de caso;
15. Bom é querer bem;
16. Não me culpe;
17. Solidão;
18. My Funny Valentine;
19. Fia de Chico Brito;
20. Não se avéxe não;
21. Esse norte é minha sorte;
22. Conversa de botequim;
23. Estranho amor;
24. Ave Maria Lola
Bônus:
25. Love me forever;
26. Nel blu dipinto di blu (Volare).
Dolores Duran
Dolores Duran
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