A vida de Elizeth começou a mudar aos
16 anos, quando ela teve sua primeira festa de aniversário. Nessa época sua
família havia se mudado para uma pequena casa na Rua do Rezende, nº 87, Centro
do Rio. Com difíceis condições financeiras, a família foi morar de favor com a
tia Ivone e o marido dela, Pedro. Sua festa fora realizada nesta casa. Para a
festa, foram convidados vários amigos de seu pai e de seu tio, também músicos:
Pixinguinha, Dilermando Reis, Jacob do Bandolim. Seu tio Pedro a apresentou a
Jacob, que pediu que a jovem cantasse para todos na festa, e mesmo muito
tímida, concordou, e todos gostaram muitíssimo. Jacob, impressionado com a voz
da adolescente, que mesmo sem aula já era uma voz sem erros, profissional,
resolveu convidá-la para fazer um teste na Rádio Guanabara e ver se o dono
aprovava. Elizeth fora no dia seguinte, e com louvor, conseguira passar na
prova e eliminar diversas candidatas: venceu a prova em primeiro lugar, e assim
sua carreira deslanchou. Com apenas um disco gravado, começou a ganhar um bom
dinheiro e ajudar mais sua família.
Seu pai era contra a exposição da filha, e não
queria que ela se tornasse profissional, mas Elizeth tinha um gênio muito forte
e uma vontade de realizar seus sonhos maior ainda, e então, mesmo contra a
vontade dele, realizou sua primeira apresentação, em 1936, no “Programa
Suburbano”, ao lado de Vicente Celestino, Araci de Almeida, Moreira
da Silva, Noel Rosa e Marília Batista. Na semana seguinte foi contratada para
um programa semanal na rádio e a partir daí, nunca mais parou de fazer sucesso,
gravando um disco atrás do outro.
Apesar de ter viajado o mundo, e
cantado em todos os países, só faltava um, que era seu sonho: conhecer o Japão.
No fim dos anos 1970 o viu pela primeira vez e ficou encantada. Passou a cantar
lá com frequência, e passou a viajar a turismo, visitando diversas cidades.
Em 1987, recebeu o convite para uma
excursão musical no Japão. Após o término dos espetáculos, ficou algumas
semanas passeando pelo país e quando estava em seu hotel, Elizeth se sentiu
muito mal, com tonteiras, dores estomacais, até que vomitou sangue e desmaiou.
Um dos funcionários do hotel a achou caída, e a cantora acabou sendo internada
às pressas. Rapidamente, após uma endoscopia, os médicos japoneses
diagnosticaram um câncer no estômago, ou seja, um carcinoma gástrico, que
obrigou a cantora a uma cirurgia emergencial, para conter o sangramento e diminuir
o tumor.
Seus filhos foram visitá-la, e após
algumas semanas internada, pôde voltar ao Brasil, acompanhada deles. Ela passou
a se tratar com um gastroenterologista. Apesar tomar medicamentos e fazer os
mais avançados tratamentos contra a doença, o tumor havia diminuído, mas pouco
tempo depois havia crescido mais, e se espalhado, e Elizeth passou os últimos
três anos de vida a base de muitos medicamentos, havia sofrido muita perda de
peso, além de fortes dores estomacais e abdominais, mas não deixava se abater,
apesar de descansar mais, se alimentar melhor e cancelar muitos shows, não
conseguia ficar longe do que amava: a música.
Quando conseguia ter forças para
andar, com ajuda, subia ao palco e fazia shows, e muitas vezes não conseguia ir
até o final, mas o público era compreensivo. Não suportando mais tanto
sofrimento, e já internada, a cantora faleceu às 12h28min, do dia 7 de maio de
1990, na Clínica Bambina, no bairro de Botafogo. Elizeth Cardoso foi velada no
Teatro João Caetano, onde compareceram milhares de fãs. Foi sepultada, ao som
de um surdo portelense, no Cemitério da Ordem do Carmo, no Caju, Rio de
Janeiro..
Além do choro, Elizeth consagrou-se como uma das
grandes intérpretes do gênero samba-canção (surgido na década de 1930), ao lado
de Maysa, Nora Ney, Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Dolores Duran. O gênero,
comparado ao bolero, pela exaltação do tema amor-romântico ou pelo sofrimento
de um amor não realizado, foi chamado também de dor de cotovelo ou
fossa. O samba canção antecedeu o movimento da bossa nova (surgido ao
final da década de 1950).
Elizeth migrou do choro para o samba-canção e deste
para a bossa nova gravando, em 1958, o álbum Lp “Canção
do Amor Demais”, considerado fundamental para a inauguração deste
movimento, surgido em 1957. O antológico disco trazia ainda, também da autoria
de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, as canções Chega de Saudade, Luciana,
As Praias Desertas e Outra Vez. A melodia ao fundo foi composta
com a participação de um jovem baiano que tocava o violão de maneira original,
inédita: o jovem João Gilberto.
Em 1960, gravou o jingle para a campanha
vice-presidencial de João Goulart. Nos anos 1960 apresentou o programa de
televisão “Bossaudade”, na TV
Record, Canal 7, São Paulo. Em 1968 apresentou-se num espetáculo que foi considerado o ápice
da carreira, com Jacob do Bandolim, Época
de Ouro e Zimbo Trio, no
Teatro João Caetano, em benefício do Museu da Imagem e do Som (MIS - Rio de Janeiro). Considerado um
encontro histórico da música popular brasileira, no qual foram ovacionados pela
platéia; Desse show foram lançados álbuns em edição limitada pelo MIS.
Em abril de 1965 conquistou o segundo lugar na
estreia do I Festival de Música
Popular Brasileira (TV Record) interpretando a canção Valsa do amor
que não vem, de Baden Powell e Vinícius
de Moraes; o primeiro lugar foi da novata Elis Regina, com a música Arrastão,
de Edu Lobo. Serviu também
de influência para vários cantoras que viriam depois, sendo uma das principais
a cantora Maysa.
Elizeth Cardoso lançou mais de 40 LPs no Brasil e
gravou vários outros em Portugal, Venezuela, Uruguai, Argentina e México.
Para homenagear essa grande cantora brasileira,
apresentamos o ótimo álbum intitulado “O Inverno do Meu Tempo”, lançado em
1979, pela gravadora Som Livre. Este disco contou com a participando de grandes
nomes.
Os arranjadores ficaram por conta de Radamés
Gnatalli, Sivuca, Sérgio Carvalho, Geraldo Vespar e Antonio Adolfo. Já no
instrumental os destaques são Zé Menezes, Waltel Branco, Helio Capucci, Neco,
Dino 7 Cordas, Raphael Rabello, Baden Powell, Wilson das Neves, Marçal, Ed
Maciel, entre outros.
A
seleção do disco é composta das seguintes canções, respectivos compositores e
participações especiais:
01 - Mulata Faceira (João Nogueira /
Paulo César Pinheiro) with João Nogueira
02 - Queixa (Baden Powell / Vinicius de
Moraes)
03 - No Tempo dos Quintais (Sivuca /
Paulinho Tapajós)
04 - Unhas (Dona Ivone Lara / Hermínio
Bello de Carvalho)
05 - Mar de Vermelho e Branco (Silvio
César / Haroldo Costa)
06 - O Inverno do Meu Tempo (Cartola /
Roberto Nascimento)
07 - Primavera/outono (Sergio Carvalho /
Silvio César)
08 - Voltar (Delcio Carvalho)
09 - Migalhas (Paulo Valdez / Sergio
Santana)
10 - Por Quase Nada (Tavinho Bonfá / Ivan
Wrigg)
11 -
Velho Amigo (Baden Powell / Vinicius de Moraes) with Baden Powell
12 - De Repente (Silvio César)
13 - Bachianas Brasileiras Nº 5 - 1ª
Parte da Ária (Cantilena) (Villa-Lobos / David Nasser)
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